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Bem no fim do mundo

Você já ouviu falar sobre Ushuaia? A cidade que fica bem no fim do mundo, literalmente, sempre permeia os sonhos dos apaixonados por viagens. O jornalista Marcello Oliveira vivenciou a experiência quase que indescritível de estar na Terra do Fogo e hoje vem revelar por que você tem que ir para Ushuaia! Partiu para a Patagônia argentina?

 

Por Marcello Oliveira

Ushuaia é daqueles lugares que, quando ouvimos falar, logo colocamos na lista de destinos a se conhecer, mas na hora de planejar a viagem, a distância sempre faz com que adiemos a visita. E essa cidade de 70 mil habitantes, ao sul da Argentina, está literalmente no fim do mundo. São pouco mais de quatro horas de voo de Buenos Aires, então só por isso já temos uma ideia de que Ushuaia está encostada na Antártica.

 

 

Minha escolha em visitar Ushuaia veio como um complemento às minhas férias na capital argentina, lugar que eu já conhecia, mas que estava voltando junto com um amigo tão aventureiro quanto eu (ou que pelo menos tentou ser).

Poucos dias antes da viagem ainda estava em dúvida: Cancun (cidade que eu não conheço até hoje) ou Argentina. Tudo pesava a favor do litoral mexicano, pois era tudo que eu gostava em um único lugar: verão, sol, mar, festas e muita gente solteira. Quer férias mais animadas do que essas?

Mas lembrei que a viagem até Buenos Aires poderia ser esticada até o cone sul das Américas, um dos lugares mais mágicos do mundo. E ainda bem que escolhi a viagem para a Terra do Fogo e acho que você, quando tiver oportunidade, também tem que ir para Ushuaia. O único arrependimento foi de não ter ficado mais tempo por lá.

Após quatro noites em Buenos Aires, voamos do Aeroparque, o aeroporto central da cidade, em voo direto de aproximadamente quatro horas para Ushuaia. O Boeing 737 estava lotado e – pasmem – a maioria das pessoas a bordo eram locais e não turistas.

 

 

Pode parecer que o verão aqui no Hemisfério Sul não é tão convidativo para conhecer o Polo Sul, mas Ushuaia é tão fantástica que as boas surpresas começam ainda em voo. A aproximação ao aeroporto da cidade te proporciona uma das melhores vistas que você pode imaginar, em qualquer época do ano.

O verão batia na porta, mas as montanhas que cercam a cidade mais austral do mundo estavam cobertas de neve, os flocos de gelo caiam no centro da cidade e a temperatura de seis graus dava um ar de “inverno em Campos do Jordão”, só que melhor.

 

 

O que fazer?

 

Há um leque de opções de passeios surpreendentemente variados em Ushuaia, que vai do surf (sim, mesmo com temperaturas de seis graus, os locais aproveitam o verão para pegar umas ondas na praia) à exploração de cavernas de gelo.

Mas também é possível fazer um tour de caiaque, trilhas off-road em carros 4×4 ou quadriciclos, ou ainda subir alguma montanha. Foi o que fiz! O tempo estava convidativo para subir o Glaciar Martial, um pico muito famoso, mas preparo físico é bem-vindo. Lá é certeza de fotos fantásticas.

Para os solteiros, os encontros para tomar uma excelente cerveja patagônica é no Dublin Irish Bar, com uma programação de bandas que se apresentam ao vivo todas as noites.

 

A um passo da Antártica

 

Muitos dos que chegam em Ushuaia, partem num cruzeiro que tem a Antártica como destino. São só mil quilômetros que separam a cidade do continente gelado. Pode parecer muito, mas nenhuma outra cidade do planeta é tão perto da Antártica quanto Ushuaia. Isso é um orgulho para os locais e está estampado em uma placa instalada no cais e que também informa as distâncias das cidades mais austrais dos países mais ao sul de cada continente.

Como eu não tinha tempo para fazer um cruzeiro para a Antártica, que dura 10 dias e custa a partir de 4 mil dólares em um luxuoso navio preparado para expedição em águas congeladas, o gostinho de Polo Sul ficou com um passeio de ferry pelo estreito de Beagle, pelo valor aproximado de 120 dólares e que dura cinco horas.

Em uma praia do outro lado do canal, podemos desembarcar e caminhar com os pinguins, além de ter uma visão deslumbrante de Ushuaia cercada pelas colinas brancas de neve. O curto passeio te permite navegar em águas antárticas e ainda ter o passaporte carimbado ao voltar para a terra firme.

 

 

Gastronomia patagônica

 

Voltamos para o centro da cidade a tempo de jantar em um aconchegante restaurante de típica gastronomia da Patagônia argentina, como a merluza negra pescada nas profundezas das águas geladas e o chorizo argentino. Mas a minha dica, sem dúvida nenhuma, é o cordeiro patagônico, assado lentamente em espetos fincados no chão sobre a brasa de lenha, onde é pincelado periodicamente com manteiga e vinho, até ficar no ponto. Uma iguaria feita de uma maneira que nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. Só isso já seria motivo para dizer que você tem que ir para Ushuaia.

 

Onde ficar?

 

O centrinho de Ushuaia realmente lembra as pequenas vilas suíças e há hotéis para lá de luxuosos – e caros. Mas a cidade oferece boas opções bem aconchegantes a preços convidativos, mas sem o luxo exorbitante das grandes hospedarias.

Uma coisa que eles têm em comum é o café da manhã, que abusa do doce de leite artesanal, do chocolate quente e do melhor alfajor que você irá comer na vida, além do creme de avelã que vai bem com tudo.

Há opções de hostel que também oferecem quartos individuais.

Na hora de voltar para a casa, a decolagem no fim da tarde te oferece uma vista tão bela quanto à da chegada e a certeza que você vai querer voltar para curtir ainda mais a cidade mais austral do mundo.

E aí, convencido de que você tem que ir para Ushuaia? Aproveite que a Argentina já abriu as fronteiras para o Brasil e realize seu sonho de viagem para a Patagônia argentina agora mesmo!