
Uma cidade que parece ter parado no tempo
Por Raphael Ursino
Um lugarzinho bucólico e, ao mesmo tempo, muito romântico! Esta foi a primeira impressão que tive ao chegar em Colônia do Sacramento, uma pequena cidade às margens do Rio da Prata, no Uruguai.
Minha esposa e eu desembarcamos na rodoviária logo pela manhã, saindo de Montevidéu, que fica a 180 km. A viagem durou cerca de três horas e foi bastante tranquila.

Antiga estação de trem de Colônia
Para conhecer melhor o lugar, resolvemos chegar até o centro histórico caminhando. O trajeto é de aproximadamente 1 km.
No caminho nos deparamos com uma antiga estação de trens de Colônia do Sacramento, que fica em uma área bastante arborizada às margens do Rio da Prata. O local é um silêncio só. Permanecemos ali por uns instantes imaginando como devia ser a movimentação do chega e sai dos trens antigamente!
Porta da Cidadela
Depois de algumas fotos, continuamos a caminhada e finalmente chegamos à Porta da Cidadela que, como o próprio nome já diz, era a entrada oficial da cidade. O local possui uma ponte levadiça de madeira e um grande portão que era fechado com correntes, método similar ao dos antigos castelos medievais, e dá acesso ao que é hoje o centro histórico de Colônia do Sacramento.

Porta da Cidadela – Entrada para o Centro Histórico de Colônia do Sacramento
Ao atravessar para o outro lado, podemos ver a antiga muralha construída no século XVIII pelos portugueses para proteger a cidade contra invasões. O lugar é um belo cenário para fotos.

Ruínas da muralha de Colônia do Sacramento
Pertinho dali, fica a Plaza Mayor, cercada de bares e restaurantes. Em torno da praça, também estão o Museu Português e o Museu Municipal.
Apesar de ser fundada pelos portugueses em 1680, Colônia do Sacramento teve o seu domínio nas mãos dos espanhóis em alguns períodos da história, o que justifica a sua arquitetura ser uma mistura de traços dos dois países.
Com todo o seu charme e as ruas de pedra, o centro histórico da cidade acabou sendo tombado como Patrimônio Mundial pela Unesco, em 1995.
Por lá, ainda se vê vários carros antigos estacionados. Alguns já fazem até parte da decoração da rua, pois estão todos enfeitados com flores.

Os carros antigos são uma atração especial de Colônia do Sacramento
Quer uma dica? Perca-se pelas ruazinhas tranquilas sem se preocupar com o horário. A cidade é um encanto.
Rua dos Suspiros
Impossível visitar Colônia do Sacramento sem passar pela charmosa Rua dos Suspiros, a mais antiga da cidade, feita toda de pedras e abriga casinhas do estilo português e também espanhol.
A origem do nome da rua é cercada de mistérios. Reza a lenda que o local ficava repleto de prostitutas que arrancavam suspiros dos marinheiros que por lá passavam, em busca de diversão. Outra história diz que lá era passagem de muitos condenados à morte que seguiam até o rio, onde seriam fuzilados. Dizem também que uma jovem estava esperando pelo seu amado, quando, de repente, foi apunhalada pelas costas e morreu suspirando.

A Rua dos Suspiros é cercada de lendas e mistérios
Uma paradinha para almoçar
Depois de horas caminhando por Colônia, decidimos parar para almoçar. Nem precisamos procurar muito para avistar uma portinha bem pequena que, de cara, chamou a nossa atenção.
De lá, vimos um senhorzinho saindo com alguns apetrechos para arrumar as mesinhas que ficavam no meio da rua. Isso mesmo, não estavam na calçada. E olha que ali era rota de carros. Mas a cidade é tão tranquila que durante o tempo em que permanecemos no restaurante, não passou nenhum automóvel.
Enquanto aguardávamos o nosso pedido, uma massa caseira com molho pomodoro que, diga-se de passagem, estava deliciosa, aproveitamos para saborear uma taça de vinho branco.

Na espera pelo almoço, tomamos uma taça de vinho uruguaio
Na hora da sobremesa, não tivemos dúvida. Claro que tínhamos que provar o famoso doce de leite uruguaio, muito popular no país e que faz parte do cardápio diário da população.
Após o almoço, saímos para dar uma volta, mas resolvemos fazer mais uma pausa para tomar sorvete, aliás, sorvete não, gelato. A diferença é que o gelato é fabricado com ingredientes naturais, sem conservantes e também com menos gordura, em relação ao sorvete.
Sentamos na Freddo, uma deliciosa gelateria argentina e que também tem lojas no Brasil. Ah, e adivinha o sabor que eu escolhi? Sim, doce de leite.

Gelato Freddo
Convento de São Francisco e Farol de Colônia do Sacramento
Durante uma leve e despretensiosa caminhada pelo centro histórico depois do almoço, chegamos às Ruínas do Convento de São Francisco, destruído por um incêndio em 1704, dez anos após ser erguido. No local existe também um Farol de 34 m de altura, construído há mais de 150 anos para auxiliar as embarcações do Rio da Prata. É possível admirar a cidade lá de cima.

Ruínas do Convento de São Francisco e Farol de Colônia do Sacramento
A Argentina é logo ali
Após um dia repleto de deliciosas experiências por esta aconchegante cidadezinha e já cansados de tanto andar, sentamos nos banquinhos do Porto dos Iates, de frente para o Rio da Prata. Aproveitamos para curtir aquele visual e descansar um pouco, enquanto esperávamos o horário de descer para a rodoviária e pegar o ônibus de volta a Montevidéu.
Dali é possível avistar a Argentina do outro lado da margem. Na verdade, Colônia está mais perto de Buenos Aires (50 km) do que de Montevidéu (180 km). Existem vários barcos que fazem a travessia entre as duas cidades, e o trajeto dura cerca de 1h.

Porto dos Iates
E assim terminamos a nossa viagem a Colônia do Sacramento, um lugar lindo, histórico, charmoso e muito, muito tranquilo. A paz e o silêncio do lugar são um convite para quem gosta de sossego e boa comida. Um destino ideal também para viajar a dois, como foi o nosso caso.
Entramos no ônibus e, aproximadamente duas horas depois, desembarcamos novamente em Montevidéu para mais alguns dias de viagem pela capital do Uruguai. Bom, mas isso é assunto para outra coluna.