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A surpreendente Casablanca, no Marrocos

Por Marcello Oliveira

Eu já estava na Europa há mais de um mês em uma viagem pelo velho continente que durou, ao todo, dois meses. Para dar uma quebrada no estilo totalmente ocidental, quis experimentar uma cultura bem diferente não muito longe dali. Foi aí que tive a ideia: a surpreendente Casablanca, no Marrocos! Por que não?

Marrocos é o país africano mais próximo do continente europeu. Voos curtos e baratos são um convite para um fim de semana no país de forte cultura herdara dos árabes. Então peguei um voo em Madri ao custo de 62 Euros e, em menos de duas horas, já estava pousando no Aeroporto Internacional de Casablanca. Um fim de semana é o suficiente em Casablanca. Depois, peguei outro voo de volta à Europa, mas dessa vez para Lisboa, numa viagem de apenas uma hora e meia e que custou 19 euros.

A surpreendente Casablanca, no Marrocos

A maior cidade marroquina é frequentemente ignorada como um destino de viagem, já que a maioria dos turistas prefere seguir para cidades mais turísticas como Marrakech, Fes ou até mesmo a capital, Rabat. Mas em vez de embarcar imediatamente em um trem ou voo de conexão, vale a pena passar pelo menos um ou dois dias descobrindo todas as coisas para fazer em Casablanca. De fato, a cidade é muito mais voltada ao povo local do que para o visitante estrangeiro, apesar de ter forte vocação aos negócios. Afinal, ela o coração financeiro do Marrocos. 

Mas, se você acredita nos guias tradicionais, pode achar que Casablanca não vale muito a pena. Mas antes de sair correndo para Marrakech, leia este texto que vai te explicar os motivos pelos quais eu acho que você deve ficar em Casablanca por mais de algumas horas.

Gastronomia e vida noturna

Marrakech é uma das cidades marroquinas mais elegantes e o destino de escolha da maioria dos turistas. Mas Casablanca ainda tem restaurantes acessíveis e modernos o suficiente para ser um destino culinário próprio. Um ponto de encontro popular é o Blend, um restaurante de hambúrgueres onde você provavelmente terá dificuldade em conseguir uma mesa durante o horário nobre do jantar.

Depois de se deliciar com um de seus hambúrgueres gourmet, vá até o La Bodega, um bar de tapas em estilo espanhol onde  “boêmios” se reúnem para beber em um ambiente barulhento, mas divertido. Procurando algo um pouco mais refinado ao visitar Casablanca? Faça uma reserva no luxuoso estabelecimento à beira-mar Le Cabestan e peça uma mesa perto da água. Prepare-se para desembolsar uma boa quantia pela comida de primeira. Para o brunch de fim de semana, visite o La Sqala, que serve sucos naturais e comidas tradicionais marroquinas de café da manhã em um belo cenário ao ar livre dentro das muralhas de uma antiga fortaleza.

A surpreendente Casablanca, no Marrocos

Tajine: prato típico do Marrocos

Mas uma dica infalível é experimentar a autêntica comida marroquina em um tradicional restaurante, frequentado por nativos, em um dos acessos à Medina da cidade. O restaurante La Sqala oferece variadas opções de tradicionais pratos do país. O mais completo é o Tajine, que é um cozido ou guisado de legumes, geralmente com carne (bovina, frango ou cordeiro), mas também existem tajines vegetarianos. Optei por um Tajine de carne bovina com amêndoas e damasco cozido com um grosso caldo de ervas e especiarias locais, acompanhado de pães artesanais, molho de tomate fresco e azeitonas. Não deixe o Marrocos antes de experimentar um. 

Mesquita Hassan II

A maioria dos ocidentais nunca esteve dentro de uma mesquita, mas se você estiver visitando Casablanca, a Mesquita Hassan II oferece a rara oportunidade de fazer um tour.

A surpreendente Casablanca, no Marrocos

Mesquita Hassan II: uma das maiores do mundo

Situada à beira do Oceano Atlântico, é uma das maiores mesquitas do mundo e a principal maravilha arquitetônica de Marrocos. A mesquita que foi encomendada pelo rei Hassan II é uma das principais atrações em Casablanca. Foram sete anos para ser construída e com capacidade para 25.000 fiéis. As excursões são oferecidas em vários idiomas em horários definidos diariamente, exceto às sextas-feiras (o dia sagrado para os muçulmanos). Os visitantes da Mesquita Hassan II devem se vestir de maneira conservadora e respeitosa (certifique-se de que seus braços, ombros, decote e joelhos estejam cobertos) e traga um par de meias, pois será necessário tirar os sapatos durante parte do passeio. 

Arquitetura

O movimentado centro de Casablanca vai deixar você com a sensação de ter entrado em uma máquina do tempo. Arquitetos franceses que abraçaram o movimento Art Deco do início do século 20 praticamente tomaram Casablanca, e há muitos edifícios históricos para ver.

A surpreendente Casablanca, no Marrocos

Centro antigo de Casablanca

Alguns deles estão, infelizmente, em ruínas, enquanto outros estão bem conservados. No geral, esta área é uma autêntica fatia da história do Marrocos como colônia francesa. O melhor lugar para apreciar os pontos turísticos é o Boulevard Mohammed V. A rua leva à Place des Nations Unies, uma praça grande e movimentada cercada por lojas, restaurantes e escritórios. Outros locais notáveis ​​para ver exemplos da arquitetura marroquina/francesa em Casablanca incluem a torre do relógio do Wilaya (prédio do governo), o Banque d’Etat e a Catedral de Sacre Coeur, que não é mais uma igreja em funcionamento. 

Mercados

Embora existam definitivamente mais medinas históricas e atraentes em Marrakech e Fes, vale a pena conferir a medina de Casablanca simplesmente porque há poucos outros turistas por lá. Ou seja, é visitado basicamente por moradores da cidade.

Comércio na Medina

Se você está se perguntando o que fazer em Casablanca, os mercados certamente oferecem uma rara espiada no cotidiano dos moradores marroquinos da cidade. Não gaste muito tempo comprando aqui – a maioria das lembrancinhas são importadas de outras partes do país e, portanto, mais caras.

O colunista em uma das entradas da Medina

A entrada para a medina está localizada fora da Place des Nations Unies. Outro destino de compras para visitar (mesmo que você não esteja fazendo compras) é o Marche Central. Este movimentado mercado de rua foi originalmente projetado para europeus, mas hoje atende a expatriados e marroquinos. Se você gosta de frutos do mar, pode selecionar um peixe fresco e levá-lo ao virar da esquina para uma grelha para cozinhá-lo na perfeição. Ou simplesmente encontre um café próximo para tomar um chá de menta e observar as idas e vindas da população. O mercado também vende frutas, legumes e outros alimentos, tornando-se um ótimo local para parar antes de um piquenique na praia. Só não se esqueça de pechinchar pelo melhor preço, pois isso faz parte da cultura marroquina.

Arte

O aluguel barato faz de Casablanca um lugar ideal para os artistas morarem, e uma infinidade de prédios abandonados que fornecem telas e espaços para exposições artísticas. Um dos destaques é o Les Anciens Abattoirs, um antigo matadouro abandonado que ainda tem ganchos de carne pendurados e manchas de sangue no chão. Um coletivo de associações culturais e artistas, La Fabrique Culturelle, o assumiu recentemente e o transformou em um espaço de galeria e local de performance. Outro espaço popular em ascensão é o La Galerie 38, que apoia artistas marroquinos locais, bem como nomes internacionais. O La Galerie 38 está conectado ao Le Studio des Arts Vivants, um grande estúdio que está no centro da cena de arte contemporânea de Marrocos.

La Galerie 38

Dois ou três dias são o suficiente para conhecer bem Casablanca. Após isso, siga pelo Marrocos, visitando as turísticas Fes e Marrakech, que serão temas nesta coluna futuramente.

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Porto de Casablanca é o segundo maior do continente africano