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Conhecendo Lhasa, o topo do mundo

Por Raphael Ursino

Desde quando eu era adolescente, já ouvia falar sobre o famoso Monte Everest, a cordilheira do Himalaia e a cultura budista com aqueles monges carecas e trajes vermelhos. Então, quando surgiu a possibilidade de viajar pela China, não pensei duas vezes e tratei logo de colocar o Tibete, o topo do mundo, na minha lista. E é exatamente essa aventura que eu começo a te contar agora. Partiu? Aperte o play e confira!

Onde fica o Tibete

Localizado na fronteira com Índia, Paquistão, Mianmar e Nepal, bem no centro do continente asiático, o Tibete é uma região estratégica para a China, justamente pela facilidade de acesso aos países vizinhos. Sua geografia montanhosa oferece paisagens que são verdadeiros cartões postais, formadas por montanhas de gelo e belíssimos lagos azuis.

Visto especial e como chegar

Por ser uma região autônoma, além do visto chinês, é necessário obter uma autorização especial para entrar no Tibete. Para isso, você deve contratar o serviço de uma agência de viagem local. Ou seja, dificilmente é possível viajar de forma independente por lá. Existem três opções de acesso: avião, carro ou trem de alguma cidade da China ou Nepal.

Por ser mais barato, resolvemos (meu amigo e eu) ir de trem, dividindo uma cabine de seis dormitórios com outros passageiros. O espaço era minúsculo, mal dava para ficar sentado nas estreitas camas. O que valeu muito a pena na viagem de trem foram as belíssimas paisagens da nossa janela.

Na paisagem gelada da janela do trem, no topo do mundo, eis que surge um solitário ônibus na estrada

Na paisagem gelada da janela do trem, eis que surge um solitário ônibus na estrada

Chegando em Lhasa

Saímos de Beijing às 21h30 de uma quinta-feira e, depois de quase três dias dentro de um trem, desembarcamos sábado, às 18h30, na estação ferroviária da Terra dos Deuses, significado da palavra Lhasa, a capital do Tibete, que fica a uma altitude de 3.656 metros. Não é à toa que o local é conhecido como o topo do mundo.

Inclusive, muitas pessoas costumam passar mal por causa da altitude. Felizmente, não tivemos nenhum problema relacionado a isso. Afinal, a felicidade era tanta, por ter o privilégio de conhecer um lugar tão magico como o Tibete, que não tínhamos olhos para nenhum tipo de adversidade, era só alegria e gratidão.

Khatag Tibetana – Presente de boas-vindas

Ao desembarcar na estação de trem, fomos recebidos pelo simpático Jim, o guia turístico da agência que contratamos. Ele nos deu um Khatag, um longo lenço de seda, oferecido aos visitantes como um presente de boas-vindas para dar sorte.

Só depois fui entender que, segundo o budismo, os monges têm o poder de transmitir certos tipos de energias a objetos, transformando-os em uma espécie de amuleto ou talismã, como no caso do Khatag, que pode ser de uma das cores místicas (branco, vermelho, azul, verde e amarelo). Em Lhasa, eles brancos.

Depois da agradável recepção, fomos para o hotel, bem no centro da cidade, de onde podíamos avistar o majestoso Palácio Potala, a principal atração turística da capital tibetana.

Segundo a crença budista, o Khatag é oferecido para dar sorte

Segundo a crença budista, o Khatag é oferecido para dar sorte

Palácio Potala, o maior símbolo de Lhasa

Localizado no monte Marpo Ri, o Palácio Potala é o símbolo da capital tibetana, e já foi o centro político-religioso e residência oficial do Dalai Lama por muitos anos, até a ocupação chinesa, em 1959, acarretando o exílio do atual Dalai Lama na Índia.

O topo do mundo: Para acessar as dependências internas do Palácio Potala, é necessário subir uma escadaria com cerca de 2 mil degraus.

Para acessar as dependências internas do Palácio Potala, é necessário subir uma escadaria com cerca de 2 mil degraus.

Estrutura do palácio

Construído em 635 pra ser o palácio real do rei Songtsen Gampo, o palácio foi reestruturado em 1645. Este gigante complexo possui mais de 1.000 salas, vários santuários, bibliotecas, capelas de oração e milhares de imagens, murais, estátuas, itens de porcelana e ouro, e muito mais.

Monges tibetanos no Palácio Potala

Monges tibetanos no Palácio Potala

Centro político e religioso

A parte principal da edificação é o palácio Branco, onde fica o salão cerimonial com o trono e os aposentos pessoais de Dalai Lama. Nos prédios em vermelho ficam as stupas, que são monumentos construídos sobre os restos mortais de pessoas importantes dentro da religião budista.

Palco de muitos confrontos e incêndios, o Palácio Potala acabou perdendo grande parte do seu rico acervo. Em 1994 recebeu o título de patrimônio universal da Unesco, e hoje funciona como museu.

Depois de contemplar o Potala por fora, resolvemos subir os 2 mil degraus para chegar até a entrada principal. Fiquei bastante surpreso com a bela vista lá de cima.

No topo do mundo: Lhasa vista do alto do Palácio Potala

No topo do mundo: Lhasa vista do alto do Palácio Potala

Dalai Lama e Panchen Lama

Segundo as tradições budistas, o Dalai Lama é a reencarnação de Buda. Os costumes do Tibete determinam que o sucessor dele seja o Panchen Lama, que é um vice-líder escolhido ainda quando criança.

Em nome da fé

Começamos a andar pelo centro antigo de Lhasa e chegamos à rua Barkhor, cercada de barraquinhas e vendedores ambulantes, onde, diariamente, centenas de peregrinos fazem as suas orações enquanto percorrem os chamados koras, que são rotas circulares em volta de grandes templos budistas.

Muitos peregrinos seguram, em suas rodas de oração, um cilindro que pode ser feito de cobre, prata ou ouro, com palavras sagradas esculpidas. Ao girar as rodas, são emitidas energias que geram equilíbrio, saúde, paz e vitalidade para todos, segundo as crenças budistas.

Ao girar as Rodas de Oração, são emitidas energias que geram equilíbrio, saúde, paz e vitalidade para todos, segundo as crenças budistas.

Ao girar as Rodas de Oração, são emitidas energias que geram equilíbrio, saúde, paz e vitalidade para todos, segundo as crenças budistas.

Se existe uma palavra que seja capaz de resumir o povo tibetano, eu diria que é fé. De todas as viagens que já fiz, eu nunca vi nada igual! O tempo todo podemos ver tibetanos se arrastando pelo chão em volta dos templos, concentrados e totalmente entregues àquele momento de prostração. Eu fiquei realmente impressionado com a fé desse povo.

Dezenas de budistas orando em frente ao templo Jokhang

Dezenas de budistas orando em frente ao templo Jokhang

Templo de Jokhang

É bem ali, no coração de Lhasa, que fica templo de Jokhang, considerado o templo mais sagrado para os tibetanos. Construído em madeira, durante o século sete, o Jokhang é repleto de centenários manuscritos, imagens de buda e tesouros. Por dentro, ele é bastante peculiar e, ao mesmo tempo, muito bonito.

O Templo Jokhang possui uma bela arquitetura

O Templo Jokhang possui uma bela arquitetura

Por dentro,o complexo é bastante peculiar e, ao mesmo tempo, muito bonito.

As paredes das dependências internas do templo Jokhang são bastante coloridas

As paredes das dependências internas do templo Jokhang são bastante coloridas

Conhecendo a noite de Lhasa

Perguntei ao guia como era a vida noturna em Lhasa, e ele me disse que a cidade possui vários locais divertidos. Ele nos levou a uma casa de shows, onde pude assistir a algumas apresentações artísticas de dança e música. Apesar de não ser, necessariamente um lugar para você dançar e conhecer pessoas, é interessante fazer essa imersão na parte artística do Tibete. Valeu demais.

Visitar Lhasa, o topo do mundo, foi uma quebra de paradigmas, um encontro com a fé personificada em cada tibetano, uma experiência jamais vista em lugar algum. Foi inesquecível!

As noites em Lhasa são regadas a dança, teatro e música

As noites em Lhasa são regadas a dança, teatro e música

Rumo ao Monte Everest

No outro dia, bem cedo, partimos para o magnífico Monte Everest, o topo do mundo, com seus nada menos que 8.849 metros de altitude, bem na cordilheira do Himalaia. Essa aventura por lá você confere clicando aqui.

O topo do mundo: Rumo ao Monte Everest

Rumo ao Monte Everest