
Rumo ao Monte Everest
Por Raphael Ursino
Depois de alguns dias surpreendentes em Lhasa, a capital do Tibete, resolvemos partir para uma aventura rumo ao Monte Everest. E põe aventura nisso! Aperte o play e confira.
Às 7h da matina, nosso guia de turismo, o simpático Jim, nos encontrou na porta do hotel com o seu velho Jipe branco que sacolejava o tempo todo. O motorista, já a postos, acabara de ligar o motor enquanto colocávamos a bagagem no carro.
Partimos, nós quatro. Jim, o motorista, meu amigo e eu, em uma jornada de cerca de 300 km até o primeiro destino, a cidade de Gyantse. Ah, vale mencionar que, no início da viagem, a altitude era de 3.656 metros acima do nível do mar. No Monte Everest é 5.250.
Uma paradinha para o café
Alguns quilômetros depois, fizemos uma parada na estrada para o café da manhã, que foi uma espécie de mexido de arroz com vegetais e carne de iaque. Para beber, o tradicional chá de manteiga de leite Iaque. A título de curiosidade, o Iaque é um animal herbívoro, da família dos bovídeos (boi e vaca), com pelagem longa, abundante e lanosa. Eles vivem na região do Himalaia, no sul da Ásia Central.

Café da manhã na estrada. Arroz, verdura, carne de Iaque e chá de manteiga
Paisagens de filme
Voltamos à estrada e seguimos por uma rodovia vazia, onde parecia ter somente o nosso carro, em meio aquela imensa área desértica cheia de curvas pra lá de acentuadas e paisagens, ora formadas por pequenas manadas de Iaques selvagens, ora por vilarejos esquecidos no meio do nada, ou por instagramáveis lagos cercados pela Cordilheira do Himalaia.

A paisagem do Tibete é cercada de Iaques
Lago Yamdro Tso
Por falar em lago, o destaque vai para o belíssimo Yamdro Tso, com suas águas na cor azul turquesa. Ele é um dos lagos sagrados do Tibete, e lugar de peregrinação, pois acredita-se que as suas águas possuem poderes de rejuvenescimento e longevidade.
Com mais de 72 km de extensão, o Yamdro Tso está localizado entre várias montanhas de gelo, a uma altitude de 4.441 metros. Paramos o carro e descemos para fazer fotos e vídeos daquele espetacular presente da natureza. O cenário é surreal!

Impossível não querer parar para admirar o lago Yamdro Tso

Um tibetano montado em seu Iaque
Geleira Karola
Mais 60 quilômetros à frente, outra surpresa. Avistamos, bem no meio da estrada, a magnífica Geleira Karola. Mais uma vez, apesar do frio e do vento, não poderíamos deixar de sair do jipe para contemplar aquele incrível monte de 300 metros de altura e conhecer também a pequena vila aos pés da montanha, onde artesãos vendiam alguns de seus trabalhos, como colares, pulseiras e demais itens de pedra, tecido e metal.

A belíssima geleira Karola possui 300 metros de altura
Monastério Pelkor Chode
Depois de mais de seis horas na estrada rumo ao Monte Everest, sacolejando dentro do jipe, chegamos a Gyantse. Fomos direto para o Monastério Pelkor Chode, um dos principais templos da região, construído em 1.418 pelo primeiro Dalai Lama, Gedun Truppa.
Por dentro o lugar é muito bonito, onde podemos ver antigas escrituras, imagens de Buda e pinturas. É proibido filmar e fotografar, mas fomos autorizados a fazer algumas imagens do local onde os monges se concentram para orar.

O Monastério Pelkor Chode é um dos principais templos da região. Ele foi construído em 1.418
Ao lado do monastério, fica uma enorme stupa octogonal chamada Kumbum, a maior do Tibete, que foi construída em 1.427. Stupas são monumentos construídos sobre os restos mortais de pessoas importantes dentro da religião budista. Inclusive, Gyantse já foi considerada a terceira cidade mais importante do Tibete, e um dos motivos foi justamente a stupa Kumbum.

A Stupa Kumbum é a maior do Tibete
Rumo ao Monte Everest
Finalmente, partimos para o destino mais esperado de todo o passeio, o fabuloso Monte Everest. Entramos no carro para percorrer mais 100 km de estrada, sendo 70 km de estrada de terra, em um trajeto de duas horas, sacolejando ainda mais (risos).

Rumo ao Monte Everest
Depois de quase dez horas de viagem, desde Lhasa… Ufa! conseguimos chegar ao Acampamento Base do Monte Everest, a uma altitude de 5.250 metros, bem na fronteira com o Nepal. Demos sorte de pegar o céu ainda claro, a tempo de assistir ao sol se pôr sobre a indescritível Cordilheira do Himalaia, que atravessa cinco países: Butão, Índia, Nepal, China e Paquistão.
Ao descer do carro, avistei aquela gigantesca montanha bem na minha frente e pensei: “Eu estou no teto do mundo”. Foi simplesmente inacreditável ver aquilo tão de perto.
20 minutos que valeram por uma eternidade
“Atenção, temos apenas 20 minutos”. Estas foram as primeiras palavras que o Jim, nosso guia, disse ao chegarmos lá. Como é uma área de fronteira, vimos várias tendas militares com soldados armados vigiando cada passo nosso. “Não ultrapassem aquele ponto onde tem a bandeira da China, pois é território nepalês”, nos alertou o guia. Segundo ele, os militares têm autorização para atirar em quem atravessa a fronteira sem a documentação necessária para entrar no país vizinho. Eu não quis pagar pra ver (risos).

O Monte Everest Base Camp é vigiado 24 horas por soldados, para impedir a travessia ilegal da fronteira com o Nepal
Ficamos maravilhados com tamanha beleza e energia do Monte Everest, que possui 8.850 metros de altura, se destacando na paisagem da cordilheira do Himalaia. Foi difícil até de falar. Primeiro porque estávamos a 5.250 metros acima do nível do mar, com o ar bastante rarefeito dificultando a respiração, e segundo pois fomos completamente tomados pela emoção de estar naquele lugar indescritível!

Sem palavras para descrever este momento
Curiosidades sobre o Monte Everest
“Deusa-mãe”, este é o significado de Chomolungma, o nome do monte em tibetano. Ele já foi conhecido também como Pico XV. Na verdade, passou a se chamar Monte Everest no ano de 1886, em homenagem a George Everest, cartógrafo responsável por completar o levantamento topográfico da Índia. Acredita-se que que ele nunca viu de perto a montanha que leva seu nome.
Problemas com a altitude
Apesar de muitas pessoas relatarem falta de ar e de apetite, insônia, dentre outros sintomas chamados de “Mal da Montanha”, confesso que não tivemos nenhum problema. Só ficávamos um pouco ofegantes ao falar enquanto caminhávamos, nada mais que isso.

Mesmo parcialmente coberto pelas nuvens, o Monte Everest se destaca na Cordilheira do Himalaia
Dormindo no alojamento do monastério
Depois de conhecer a base do espetacular e inacreditável Monte Everest, percorremos mais 8 km para passar a noite em um alojamento próximo ao Rongbuk, o monastério mais alto do mundo (4.980 metros), na cidade de Shigatse. Ele foi construído no início do século XX.
O lugar era bem simples, com infraestrutura bastante precária. Fazia muito, muito frio. O guia nos disse que a temperatura estava na casa dos trinta graus negativos.
Já exausto, após uma jornada de cerca de dez horas viajando de carro, corri logo para o quarto para dormir. Aliás, dormir, não, passar a noite. O frio era tão forte que não consegui nem tirar os sapatos antes de deitar na cama gelada e colocar uma pilha de cobertas por cima. Eu nunca senti tanto frio na vida!

Alojamento do Monastério Rongbuk
Tsampa, uma iguaria tibetana
Na manhã seguinte, fomos para o refeitório tomar café, antes de cair na estrada novamente. Comemos uma iguaria tibeteana chamada Tsampa, uma mistura de farinha de cevada com chá preto, ervas e manteiga de iaque. Geralmente, se come com a mão mesmo, pegando aquela massa e fazendo uma bolinha. O gosto é bom. Segundo os tibetanos, o Tsampa é um alimento muito nutritivo e sustenta por um bom tempo.
Após o café, ao sair do alojamento, demos de cara com o gigante Monte Everest à nossa frente, mais uma vez. O frio era quase insuportável, mas não maior que a minha vontade de contemplar um pouco mais aquela vista.

O Tsampa é uma comida tradicional tibetana
Monastério Tashi Lhunpo
Saímos do alojamento e pegamos a estrada para o destino final do passeio, o importantíssimo monastério Tashi Lhunpo, fundado em 1447, pelo 1º Dalai Lama. O lugar é a tradicional sede monástica do Panchen Lama, e é composto por grandes palácios que abrigam estátuas gigantescas e pinturas budistas.

O belíssimo Monastério Tashi Lhunpo
Dalai Lama e Panchen Lama
Segundo as tradições budistas, o Dalai Lama é a reencarnação de Buda. Os costumes do Tibete determinam que o sucessor dele seja o Panchen Lama, que é um vice-líder escolhido ainda quando criança.

Monges do Monastério Tashi Lhunpo em um momento de descontração
De volta a Lhasa
No fim da jornada rumo ao Monte Everest, pegamos a estrada pela última vez, de volta a capital Lhasa. O trajeto de 270 km durou cerca de seis horas.
Foram dois dias de muita aventura, aprendizado, contemplação e, claro, frio (risos). Foi uma das viagens mais inesquecíveis da minha vida!