Lugares para conhecer

Tem que conhecer em Floripa

15 de janeiro de 2022

Florianópolis, capital de Santa Catarina, é uma cidade com muita riqueza cultural. Além do apelido Floripa, também é chamada de Ilha da Magia, e seu significado vai além do aspecto paradisíaco das praias e da natureza. A cultura florianopolitana é recheada de folclore e lendas muito interessantes e com riqueza histórica. Vem com a gente e saiba tudo o que você tem que conhecer em Floripa. Partiu?!

 

Folclore

Danças, cantigas, personagens, brincadeiras e lendas. Tudo isso faz parte do folclore de Florianópolis, que vem das influências culturais de europeus, indígenas e africanos. Bruxas e lobisomens também habitam a Ilha da Magia, que tem muita história para contar.

 

Bruxas

Dizem que, durante a caça às bruxas na Europa, muitas delas embarcaram nos navios e chegaram em Florianópolis para recomeçar a vida. Alguns pescadores contam que tiveram seus barcos roubados, redes danificadas e ouviram risadas em alto-mar, e que tudo isso seria culpa das bruxas. Até hoje, dizem que você precisa ‘pedir licença’ a elas para morar em paz na cidade, sem ser alvo de suas travessuras.

Outra lenda é que as pedras da Praia de Itaguaçu, na verdade, eram bruxas. Elas decidiram dar uma festa, e o local escolhido foi essa praia. Convidaram diversos seres mitológicos, como lobisomens, curupiras, vampiros, dentre outros. O diabo foi o único a não ser chamado para o evento, pois fedia a enxofre.

Pois bem, enquanto a festa acontecia, o diabo apareceu, muito indignado por não ter recebido um convite. Para se vingar, transformou todas as bruxas em pedras, que até hoje estão presas na Praia de Itaguaçu.

Dizem que as pedras da Praia de Itaguaçu eram bruxas.

 

Lobisomens

No distrito de Ratones, as histórias de lobisomens são as mais populares. Uma mulher dava banho no filho em uma bacia quando o marido se ausentava à noite. Porém, no caminho para o banho, um cachorro sempre tentava morder a criança. Ela espantava o animal, mas ele sempre voltava. Um dia, enfurecida, ela deu uma pancada no cão, que reagiu rasgando sua saia e correu para o mato. No dia seguinte, ela viu fiapos de sua saia presos nos dentes do marido, que ainda dormia.

Dizem que há duas maneiras de quebrar a maldição. A primeira instrui que o filho mais velho deve batizar o mais novo. Já a segunda afirma que basta uma pancada na cabeça para resolver o problema.

 

Brincadeiras e personagens

O folclore da Ilha da Magia é repleto de brincadeiras, danças e personagens. Uma das mais famosas é a do Boi de Mamão, bem parecida com a Bumba meu boi do Nordeste, pois retrata a morte e ressurreição de um boi.

Em uma encenação teatral, Mateus é um vaqueiro que, ao ver seu boi morto, recorre a um médico e a um curandeiro para resolver o problema. Ao final, o boi ressuscita e todos comemoram cantando e dançando.

Ao longo da apresentação, outros personagens do folclore aparecem e interagem com a plateia. Bernúncia é um dragão com uma boca gigante, que engole as crianças desobedientes ou que não foram batizadas. O cavaleiro, com seu cavalinho, enlaça o boi ressuscitado e o tira de cena. Maricota é uma mulher alta que rodopia os longos braços e atinge, intencionalmente, o público. Outros animais como urubus, cabras, macacos, ursos e sapos também podem aparecer na história.

A apresentação do Boi de Mamão é muito comum em época de festa junina ou Dia do Folclore (22 de agosto), principalmente em escolas.

A apresentação do Boi de Mamão é muito comum em escolas.

Dança da fita de pau

Essa brincadeira é uma dança de roda, que tem um mastro de aproximadamente três metros e longas fitas coloridas presas em seu topo. O Pau de Fitas é uma brincadeira, sempre feita em número par. Cada participante segura uma fita, e vão se movimentando em zig-zag, trançando as fitas no mastro. Depois, é feito o movimento ao contrário, para destrançar. A dança é feita de acordo com ritmos de instrumentos musicais, como sanfona, violão e pandeiro. Em cada tipo de coreografia, é possível formar diferentes desenhos com o trançado.

Cada coreografia forma um desenho diferente

 

Terno de reis

O Terno de Reis é um festejo natalino, que vem da cultura açoriana, e foi declarado patrimônio cultural imaterial de Florianópolis em 2019. A celebração sempre ocorre no dia 6 de janeiro, no Dia de Reis, e narra a visita dos três reis magos ao menino Jesus através de músicas.

Essa manifestação é uma tradição preservada por diversas famílias, e é passada de geração em geração.
Geralmente, as apresentações acontecem na Catedral Metropolitana, localizada no centro da cidade.

Crédito: Prefeitura de Florianópolis
Várias famílias e grupos apresentam o Terno de Reis.

 

Cultura Açoriana

Os povos de Açores, um território autônomo da Coroa Portuguesa, chegaram em Florianópolis entre 1748 e 1754 e tiveram grande participação na colonização do litoral de Santa Catarina. Por isso, diversos traços culturais e religiosos de Floripa são de influência açoriana

 

Artesanato

O artesanato açoriano ainda é muito comum em feiras em bairros mais antigos da cidade. Um dos mais populares é a renda de bilros, produzida através do cruzamento de fios têxteis. O trabalho é realizado em um cartão perfurado com o desenho que terá a renda, posicionado sobre uma almofada.Os fios são manejados e enrolados em bilros, que são pequenas peças de madeira. Quanto maior a quantidade de bilros, mais complexo é o desenho.

A renda de bilros é usada para a confecção de roupas, toalhas, lenços e acessórios.

A renda é bilro é um trabalho artesanal que vem da cultura açoriana.

Outros tipos de trabalhos com fios também vieram dos açorianos, como as tapeçarias de tear e a confecção de esteiras e balaios.

As tapeçarias de tear também são artesanatos comuns em Florianópolis.

 

Religiosidade

A religiosidade dos açorianos também faz parte da história de Florianópolis. Os açorianos eram católicos, o que influenciou valores expressivos na cultura. Diversas festas e tradições vêm da colonização, como o Terno de Reis, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a procissão do Senhor Jesus dos Passos e a festa do Divino Espírito Santo.

 

Nossa Senhora dos Navegantes

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes acontece nos dias 1° e 2 de fevereiro, e tem uma grande programação, com missas, festas e procissão fluvial e a pé. Os fiéis se reúnem na Paróquia Santuário Nossa Senhora Imaculada Conceição da Lagoa, onde começa a procissão andando até a Lagoa da Conceição. Na lagoa, barcos de pescadores levam a imagem da santa e fazem um dos maiores cortejos da cidade.

 

Procissão do Senhor Jesus dos Passos

A procissão do Senhor Jesus dos Passos é uma tradição que acontece 15 dias antes da Páscoa. É a celebração católica mais antiga de Florianópolis, e foi considerada patrimônio imaterial brasileiro em 2018. O evento conta com a lavação da imagem de Senhor Jesus dos Passos, a missa dos enfermos, a transladação de Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora das Dores até a Catedral Metropolitana e, por fim, a procissão, que vai da catedral até a Capela do Menino Deus. A tradição faz memória aos momentos finais de Jesus, desde sua condenação até o sepultamento.

Crédito: Universidade do Estado de Santa Catarina
Capela do Menino Deus

 

Festa do Divino Espírito Santo

A festa do Divino Espírito Santo acontece há mais de 250 anos em Florianópolis. É celebrada no dia de Pentecostes, 50 dias depois do domingo de Páscoa. A folia do Divino é muito animada, com novenas, bailes, oferendas, cortejo, vestes especiais e muita cantoria.

Festa do Divino Espírito Santo (Crédito: Prefeitura de Florianópolis)

 

Bairros Açorianos

Os aspectos da colonização açoriana ainda estão presentes em alguns bairros mais antigos de Florianópolis. Um dos mais famosos é o Santo Antônio de Lisboa, muito charmoso e pitoresco, atrai visitantes pelas casinhas coloridas, história e gastronomia.
Aos finais de semana acontece uma feira de artesanato, onde é possível encontrar os mais autênticos produtos manuais da cultura açoriana, principalmente com renda de bilro.

É um ótimo lugar para comer peixes e frutos do mar, principalmente ostras. O bairro ainda tem a tradição de pescadores, portanto você encontrará diversos barcos na água.

Barco em Santo Antônio de Lisboa.

Para saber mais sobre a culinária de Santo Antônio de Lisboa, não deixe de conferir o post Tem que comer em Floripa.

 

Festa Nacional da Ostra

A Festa Nacional da Ostra e da Cultura Açoriana, ou Fenaostra, acontece em Florianópolis desde 1999 e tem uma programação com apresentações folclóricas, shows e, é claro, várias receitas de ostras e outros frutos do mar.

É a única festa do país que reúne as áreas de gastronomia, técnico-científica, econômica, artística e cultural num mesmo espaço, tendo como mote a maricultura. O evento dura em média dez dias, com entrada gratuita e é uma excelente oportunidade de experimentar ostras com os mais diversos temperos e tipos de preparo.

O Fenaostra é um evento que permeia as áreas gastronomia, arte, cultura e economia da produção de ostras. (Crédito: Fenaostra)

 

Personalidades marcantes

Florianópolis, ou Vila Nossa Senhora do Desterro, como era chamada, é o berço de diversas personalidades marcantes na cultura, e que continuam sendo homenageadas e recebendo prestígio mesmo após a morte.

 

Victor Meirelles

Victor Meirelles (1832 – 1903) foi um importante pintor e professor do Brasil Colonial. Aos 14 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar na Academia Imperial de Belas Artes. Passou muitos anos estudando e pintando na Europa, em cidades como Roma, Veneza e Paris. Ao retornar ao Brasil, já muito consagrado, pintou quadros de Dom Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina. Também recebeu encomendas para retratar momentos históricos, como a Guerra do Paraguai e o juramento da Princesa Isabel. Além de pintor, lecionou durante 30 anos na Academia de Belas Artes.

Crédito: Museu Victor Meirelles
Pintura “Vista Parcial da Cidade de Nossa Senhora do Desterro – Atual Florianópolis” (1846)

Para saber melhor sobre sua obra e história, você tem que conhecer em Floripa o Museu Victor Meirelles. Com um vasto acervo permanente do pintor, e exposições itinerantes que dialoguem com as obras de Victor Meirelles, o museu é um espaço com grande riqueza cultural e histórica.

 

João Cruz e Sousa

O poeta João Cruz e Sousa (1861 – 1898) , é o precursor do movimento simbolista no Brasil. Filho de dois escravos alforriados, é considerado por muitos o único escritor negro do país, já que já que a maioria dos autores são mestiços. Recebeu educação formal por ter sido tutelado por um casal da aristocracia, e antigos senhores de seus pais.

Aprendeu francês, latim e grego, e teve aula de ciências e matemática com o alemão Fritz Muller, um amigo e colaborador de Charles Darwin.

Suas obras abordam, principalmente, questões relacionadas à discriminação racial e ao abolicionismo.

Em Florianópolis, há o Palácio Cruz e Sousa, que abriga o Museu Histórico de Santa Catarina. Também é patrono da Academia Catarinense de Letras, ocupando a cadeira número 15.

 

Franklin Cascaes

Franklin Cascaes (1908 – 1983), descendente de açorianos, dedicou sua vida para estudar o folclore, lendas, superstições e demais manifestações da cultura açoriana em Florianópolis. Recolheu fragmentos, resgatou histórias e, com muito esforço, conseguiu registrar os costumes e tradições dos colonos. Seu trabalho contribuiu para que a identidade cultural da cidade fosse resgatada e preservada.

Atualmente existe a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes, uma instituição com o propósito de fomentar a ação cultural de forma autônoma na cidade, além de preservar o patrimônio cultural da cidade, promovendo as tradições e folclores.

O pesquisador também foi homenageado em uma arte urbana, com um grafite em um painel de 34 metros de altura e 12 metros de largura na lateral de um prédio no centro de Florianópolis.

Grafite de Franklin Cascaes no centro de Florianópolis.

 

Aproveite para conhecer a Serra do Rio Rastro

Um dos cartões-postais de Santa Catarina é a Serra do Rio Rastro, no município de Lauro Müller. A estrada com curvas sinuosas, subidas íngremes e cercada pela Mata Atlântica chama a atenção, mas o verdadeiro destaque está no topo da serra.

O mirante tem 1,46 mil metros de altitude. Isso garante uma vista espetacular. O melhor horário para subir é entre 11h e 15h, pois há menos neblina. Geralmente lá é bem frio. Então leve um agasalho. Se for durante os meses de inverno, use roupas bem quentinhas para aproveitar o passeio com conforto.

Além do mirante, compensa visitar o Cânion da Ronda. A vista é muito bonita, e você pode sentar nos balanços para curtir a paisagem e tirar belas fotos. A subida no mirante do cânion custa R$ 15. O ingresso inclui a entrada no Parque Eólico, que tem umas 60 torres de energia com aquelas hélices enormes. Vale a pena conhecer!

Serra do Rio Rastro

Serra do Rio Rastro

 

Florianópolis é um destino muito rico em história, arte e cultura. As lendas e o folclore estão presentes por toda a cidade, e tornam a experiência do visitante ainda mais rica e divertida. Suas malas estão prontas? Não se esqueça da hospedagem, e já saiba onde você tem que ficar em Floripa. Partiu?